quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018



"Ler
Ler é colher e recolher significâncias.
Lemos o livro e logo se animam representações mentais.
E nas representações mentais 
nos vemos e vemos os outros mortais.
E também vemos o mundo das coisas, o seu entorno, o seu adorno.
Lemos a partitura e extraímos melodias.
E das melodias compomos o hino, o salmo, a sinfonia.
O doce prazer de ouvir e repetir.
Lemos a paisagem e é um deleite.
E do deleite se faz a cor de muitas pinturas
e o pretexto para outras muitas leituras.
Lemos o bulício das feiras e das festas e desta animação tecemos um negócio, uma estrada, um rio, uma ilusão.
Lemos o luar, a lua, a madrugada.
E se canta ou não canta a cotovia.
Depois, desenhamos o tempo e partimos a ganhar o novo dia. Chova que não chova, faça frio ou calmaria.
Lemos o mar, quando azul ou quando encapelado.
E entramos ou paramos na safra de embarcado.
Lemos a flor, o prado verde, a floresta
e buscamos da terra o pão, o vinho,
a fresca água, o que nos presta.
Lemos, da mulher, o lábio
o seio túmido, o toque inquieto
e daí imaginamos o que imagina a mulher quando lê o forte braço,
a estatura, o gesto, a envergadura.
Lemos, olhos nos olhos, para adivinhar segredos.
E no chão dos segredos pensamos, dormimos e sonhamos.
E nos sonhos correm medos e enredos.
E por isso, quase sempre, calamos o que vemos olhos nos olhos.
Que é nos olhos, quando há candura,
que sempre se colhe a mais fiel leitura."

José Cândido Rodrigues
Fotos: Makerspace da ESCA , Trabalhos realizados em Oficina de Artes pelo 12º N


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