terça-feira, 6 de fevereiro de 2018



A LEITORA 

 A leitora abre o espaço num sopro subtil. 
 Lê na violência e no espanto da brancura. 
 Principia apaixonada, de surpresa em surpresa. 
 Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco. 
 Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra. 

 Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento. 
 Desce pelos bosques como uma menina descalça. 
 Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva 
 em chama de água. Na imaculada superfície 
 ou na espessura latejante, despe-se das formas, 

 branca no ar. É um torvelinho harmonioso, 
 um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira 
 na sede obscura de palavras verticais. 
 A água move-se até ao seu princípio puro. 
 O poema é um arbusto que não cessa de tremer.

ANTÓNIO RAMOS ROSA, in VOLANTE VERDE ( Moraes Editores,1.ª Ed.,1986)

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