quarta-feira, 18 de abril de 2018

ANTERO de QUENTAL

[Ponta Delgada,18 de abril de 1842-11 de novembro de 1891]

Quando li os “Sonetos” de Antero numa velha edição da Universidade de Coimbra, com as folhas a descoserem-se e um papel de um cinzento amarelado nada apelativo, essa primeira impressão não me afastou da força que existe nesses versos. Ajudou-me a entendê-los o prefácio do seu grande amigo, Oliveira Martins, que de Antero disse que nele viviam o místico e o filósofo. Talvez por essa razão os colegas de Coimbra, onde estudou, lhe chamavam Santo Antero, atributo que era reforçado pelas longas barbas com que aparece na maior parte dos retratos.
Antero era um homem dos Açores ,e sentimos o apelo do mar no vento que perpassa nalguns poemas e no apelo da morte que o levará ,no regresso à ilha de S. Miguel, a um suicídio que ficou inexplicável para lá do aspeto simbólico de o ter feito num banco de jardim sob a palavra Esperança.
[…]
Homem amargo e compassivo, assim vejo Antero, o santo que se refugiou no deserto da sua crença para nos fazer acreditar na poesia como salvação da humanidade.


Nuno Júdice
(texto inédito,2016)

                                                             

 O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.

Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão -- e nada mais!

Antero de Quental .

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