O teatro a que assistimos a maior
parte dos alunos do 11º ano da ESCA, na Póvoa de Varzim, baseado no romance Os Maias de Eça de Queirós, diferia,
claro, do romance, em variados aspetos, sendo de reforçar os poucos espaços. Só
havia adereços referentes ao vestíbulo e escritório de Afonso no Ramalhete, à
casa dos Gouvarinho, à casa da Rua de São Francisco e ao espaço da corrida de
cavalos; e as poucas personagens.
Nos aspetos referidos, notava-se
o reduzido orçamento de que se dispunha, mas os atores e encenador(es)
arranjaram a maneira perfeita de o contornar.
O enredo relativo ao amor de
Carlos e Maria Eduarda foi pouco focado, mas o mais importante e imprescindível
foi, sem dúvida, referido.
Outras partes da intriga e da
crónica de costumes foram deixadas de fora, mas houve arte mesmo nisto, pois só
sofreram aquelas de que era possível prescindir. Embora a algumas personagens,
algo abundante n’Os Maias, não
houvesse a mais pequena referência, algumas das que não foram representadas foram
referidas de um modo tão vivo que pareciam ter estado lá… sentíamos a sua
presença e o seu peso, como é o caso de Raquel Cohen. Além disso, a companhia
conseguiu, genialmente, condensar toda a carga da crítica social do romance -
abordada em enorme extensão, diversos episódios e imensas personagens - nas
personagens de Dâmaso (sem dúvida uma personagem e representação a realçar
neste teatro), do casal Gouvarinho e em certos momentos e tiradas de Carlos e
Ega.
Deste modo, a genialidade e
versatilidade dos atores fez esta peça - que podia ter sido banal e medíocre,
devido à enorme tarefa e aos parcos recursos que tinham - ser especial,
interessante e adequada à grandiosidade da escrita e da obra de Eça.
Em resumo, penso que a peça é
fiel às ideias-chave da obra, mas de maneira original, diferente, e com um
toque de modernidade (principalmente nos improvisos) adequado ao público-alvo.
Conceição Maria
Santiago Nunes Gonçalves
Nº4 11ºF